Resenha (007) - Flush, memórias de um cão

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Resenha (007) - Flush, memórias de um cão

Título Original: Flush: A Biography (WOOLF, Virginia).
Gênero: Romance
Editora L&PM, 150 páginas.

Sinopse: "O personagem central dessa história é um cocker spaniel de origem inglesa, Flush. Em pleno processo de apreensão do mundo e de si mesmo, ele ama tanto os raios de sol quanto um pedaço de rosbife, a companhia de cadelinhas malhadas assim como a companhia de seres humanos, o cheiro de campos abertos tanto quanto ruas cimentadas e o burburinho da cidade. A autora tece comentários sobre a sociedade inglesa e vitoriana e seus valores." 

Hoje eu vim falar da obra de uma das minhas escritoras favoritas: Virginia Woolf. O livro foi publicado originalmente em 1931, e conta a história de Flush, que era o cão da escritora Elizabeth Barrett Browning, a qual chegou a dedicar dois poemas a seu fiel amigo.
O livro é escrito de acordo com as memórias de Flush. Esse é o ponto importante e o que mais me chamou a atenção no livro: a história toda ser contada de acordo com a perspectiva do cocker spaniel da família.
Flush nem sempre pertenceu à Elizabeth. Vivia em uma casa de campo, livre para correr e fazer o que quisesse nessa vida de cão. Eis então que foi doado aos Browning, família de Elizabeth, e foi a partir daí que suas memórias começaram a ser descritas.
Assim como todas as famílias, a família de Elizabeth possuía problemas. No decorrer da história, percebe-se que Elizabeth era um tanto melancólica - sua saúde era debilitada - devido aos cuidados do pai, cujas atitudes super protetoras e autoritárias beiravam à sensação de se sentir um pássaro preso em uma gaiola. Grande parte da vida de Elizabeth é descrita dentro de um quarto, de onde raramente saía. Lá era o seu refúgio, o lugar onde escrevia e quase nunca sentia a luz do sol tocando seu rosto.
Em decorrência da saúde frágil de sua dona e das limitações impostas a ela, Flush se vê na necessidade de abrir mão do que mais gostava pela lealdade e afeição que tinha por Elizabeth. Ele abriu mão da liberdade, da chance de se sentir vivo (isso é algo que, convenhamos, raramente veríamos uma pessoa fazer pela outra). Enquanto muitos cães estavam à solta, correndo, brincando e aproveitando a luz do sol, Flush passava a maior parte do seu tempo em uma almofada aos pés da cama de sua dona. 
Ao mesmo tempo em que Elizabeth, em sua vida reclusa e submissa negava-se como ser humano, Flush indireta e consequentemente negava-se como cão. Eis então que Elizabeth decide rebelar-se. Ela também tinha seus anseios, e acima de tudo, ela também queria viver. Ela necessitava fazer isso não só por ela, mas também por Flush. E eu paro por aí... o resto vocês devem descobrir.

Flush é simplesmente encantador. Ele não é só dono de uma sensibilidade inigualável, como também de uma grande percepção a respeito da sociedade em que viveu, sem contar que eu também fiquei comovida com suas dúvidas e sua busca por reconhecimento e muitas vezes ri do seu jeito cômico de pensar sobre certos aspectos, principalmente aqueles que diziam respeito à época e ao padrão social em que ele vivia (afinal, Flush era o típico cão pertencente à aristocracia inglesa, e ele tinha plena consciência disso). E foi por causa disso que, quando terminei essa leitura, me perguntei se às vezes palavras são realmente necessárias para expressar certas coisas. Flush não podia falar, mas tenho em minha mente que mesmo que isso fosse possível, nem seria necessário.

Eu li esse livro em um lugar afastado da cidade - a casa dos meus avós que fica no campo -, e isso me ajudou a compreender ainda mais o lado de Flush. Eu olhava para o campo e imaginava a ânsia dele por um pouco de liberdade, por rolar na grama e por sentir o vento soprando seu belo pelo... acima de tudo, eu torcia para que ele pudesse desempenhar o que tinha de melhor: ser um cão.

Se um dia alguém me pedisse para recomendar um livro de Virginia Woolf, eu diria sem hesitar: Flush, memórias de um cão. Não só porque foi o primeiro livro dela que eu li, mas também porque eu sou apaixonada por cães (tenho três!). Eu recomendo para quem gosta desse tipo de leitura... ainda mais para quem leu Marley & Eu e se emocionou. Enfim... o livro é pequeno, não tem muito o que escrever sobre ele. É de uma narrativa simples, ao mesmo tempo em que Virginia tornou algo grandioso. Será uma leitura rápida, mas extremamente comovente e proveitosa.

Bom, por hoje é isso. Desejo que vocês, assim como eu, deliciem-se com a história de Flush.
E não esqueçam de comentar. A opinião dos leitores do blog é sempre muito importante.
Até a próxima!

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