Resenha (014) - Heresia - Livro 1

sábado, 12 de janeiro de 2013

Resenha (014) - Heresia - Livro 1

Título Original: Heresy (PARRIS, S. J.)
Gênero: Suspense histórico
Editora Arqueiro, 360 páginas

Sinopse: "Inglaterra, 1583: o país enfrenta um período conturbado, marcado por conspirações para derrubar a rainha Elizabeth, que é protestante. Muitos de seus súditos estão insatisfeitos com o governo e anseiam pelo retorno do país à religião católica. 
Em meio a esse clima de conflitos religiosos, o monge italiano Giordano Bruno chega à Londres, tentando escapar da Inquisição, que o acusou de heresia por sua crença num Universo heliocêntrico. O filósofo, cientista e estudioso de magia logo é recrutado pelo chefe do serviço de espionagem real e enviado a Oxford. Oficialmente, ele vai participar de um debate sobre as teorias de Copérnico, mas, em sigilo, deve se infiltrar na rede clandestina dos católicos e descobrir o que puder sobre um complô para derrubar a rainha. 
No entanto, quando um dos membros mais antigos de Oxford é brutalmente assassinado, a missão secreta do filósofo é desviada de seu curso. Enquanto ele tenta desvendar o crime, outro homem é morto e Giordano Bruno se vê envolvido numa sinistra perseguição. Alguém parece estar determinado a executar uma sofisticada vingança em nome da religião. 
Mas, afinal, de qual religião? À procura de pistas, o monge percorre os labirintos da biblioteca de Oxford e visita tabernas infames e livrarias misteriosas fora dos muros da universidade, chegando a lugares que ele nunca soube que existiam e fazendo descobertas que poderiam ameaçar a estabilidade da Inglaterra. Envolvido em uma rede de intrigas e traição, ele percebe que às vezes nem mesmo os mais sábios conseguem discernir a verdade da heresia. Alguns, no entanto, estão dispostos a matar para defender suas crenças."

Encontrei essa obra ao acaso, na promoção de um dos sites que eu costumo comprar livros. Li a sinopse e gostei, ainda mais porque suspense histórico é um dos meus gêneros literários preferidos. Não pensei duas vezes antes de colocar no carrinho.

Na resenha de hoje não irei fazer uma descrição sobre o que se trata a história do livro, até porque a sinopse já faz esse papel muito bem (se eu escrevesse um pouco mais sobre o enredo poderia acabar entregando detalhes importantes da trama e acabando com o suspense). O que adianto é que essa resenha será uma mistura de fatos históricos, reflexões e curiosidades. E acredito que devido a isso, ela será um tanto extensa (já pedindo desculpas antecipadamente por isso, sei que para alguns pode se tornar algo cansativo).

Primeiramente, falando sobre o conjunto da obra, o livro é escrito em 1ª pessoa (no caso, pelo Giordano Bruno). Esse livro foi uma faca de dois gumes para mim. E já explico o porquê: Uma parte de mim, a parte que aprova esse misto de literatura com fatos históricos e que se rende a um bom suspense, gostou muito desse livro. Por outro lado, nunca demorei tanto para ler um livro com pouco mais de trezentas páginas.  Até um pouco mais da metade da trama a história se arrastava, e em muitas vezes o suspense se dissipava. Isso tornou a leitura um tanto cansativa até esse ponto, mas o desfecho felizmente acabou compensando esse detalhe.

Voltando um pouco ao que eu disse anteriormente, o gênero do livro é suspense histórico, e não só porque trata de questões políticas e religiosas. Para quem não sabe, o monge Giordano Bruno realmente existiu (embora a obra em si seja fictícia). A autora descreve um pouco sobre a vida, ideais e legado de Giordano, mas foi algo bem sucinto, o que acabou despertando minha curiosidade e levou-me a pesquisar um pouco mais sobre a história do mesmo. Encontrei uma referência que resume bem a biografia do personagem principal do livro:

"Giordano Bruno (1548-1600), monge dominicano e filósofo, astrônomo e matemático italiano, natural de Nola, perto de Nápoles, que afirmava, entre outras "heresias", que sendo Deus infinito o universo criado por ele também o seria, abrigando uma infinidade de mundos semelhantes ao nosso. Filho de um soldado, adotou o nome de Giordano ao ingressar, aos 17 anos, no convento de San Domenico Maggiore em Nápoles, para prosseguir os estudos que iniciara com o averroísta G. V. de Colle, onde adquiriu profundos conhecimentos sobre Aristóteles, Tomás de Aquino e Platão, mas também se iniciou nos exoterismo, cabalismo e astronomia. Ordenou-se, embora alimentasse dúvidas teológicas e se interessasse por livros proibidos, como os de Erasmo (...)." Mais em:  http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/GiordanB.html

Bom, o que se observa a partir disso era que Giordano Bruno era uma rapaz à frente de seu tempo e com uma imensa sede de conhecimento. Isso, naquela época, era considerado algo perigoso. E quem já leu ou irá ler o livro, irá perceber que muitas coisas aí descritas batem com as informações dadas pela autora a respeito do filósofo.

Retornando ao livro, o que eu achei interessante no mesmo é que ele também levanta um assunto que a mim chama muita atenção, que é a intolerância religiosa.
A Igreja Anglicana (no caso, os protestantes) data de 1533. Muitos devem saber da história do rei Henrique VIII, que era casado com Catarina de Aragão e com ela teve 6 filhos, mas dentre estes apenas uma menina sobreviveu. Naquela época não era nada comum uma mulher assumir o trono. Devido a isso, Henrique deixou-se encantar por Ana Bolena, o que fez com que o rei pedisse o divórcio de sua esposa para então casar-se com Ana, na esperança de garantir o legado do trono. O papa Clemente VII negou o pedido e recusou-se a abençoar a união. A partir daí, o rei cortou relações com Roma e se declarou o líder de uma nova Igreja.
Com isso, os protestantes procuravam a libertação da opressão religiosa da Igreja Católica Romana, ao mesmo tempo em que eram tão intolerantes e rígidos quanto a mesma. Qualquer um que se opusesse a seus ideais em território inglês era visto como conspirador contra à coroa e passava por interrogatórios, severas torturas até mesmo a uma sentença de morte extremamente dolorosa, como pode ser descrita em uma das passagens do livro:

"- Como traidor condenado, a sua sentença é clara. Você será enforcado e baixado da forca ainda vivo. Suas partes pudendas serão decepadas, pois você é imprestável para deixar qualquer descendência. Suas entranhas serão retiradas e queimadas à sua vista. Sua cabeça, que arquitetou a maldade, será decepada e seu corpo será dividido em quatro partes, a serem descartadas como Sua Majestade escolher. Que Deus tenha piedade da sua alma."

Com base nisso, o livro levanta uma questão: Eles queriam libertar-se da opressão da igreja no período inquisitório gerando MAIS opressão.
Para a igreja (naquela época, tanto a Católica Romana quanto a Anglicana), um povo alienado e encaixado aos moldes impostos pelas mesmas as mantinham seguras de quaisquer rebelião ou retaliação por parte de seus fiéis.
Todos aqueles que se mostrassem "pensantes", e que questionassem certos aspectos impostos por elas eram considerados perigosos e deveriam ser severamente punidos e silenciados. Segundo elas, o nome de quem se opusesse era herege. Na realidade, a mensagem verdadeira que queriam passar com esses mártires é que os mesmos servissem como exemplo ao povo. "Aquele que rebelar-se terá o mesmo fim". Era praticamente, conseguir a lealdade do povo na base do terrorismo, e não pelo livre arbítrio.

No livro, há personagem que questionasse a visão de Deus perante tudo isso. Será que por Ele, era necessário que tantas vidas sofressem e/ou fossem levadas em vão? Que as pessoas vivessem com medo de expor seus ideais e escolhas? Que as pessoas deixassem de manter laços com pessoas próximas por divergências religiosas? Que uns arruinassem a vida dos outros, não importando o vínculo, visando salvar a própria pele? Será que essa era realmente a vontade de Deus ou a dos homens?

Finalizando, o que eu posso dizer a respeito de Heresia, é que nada é como parece. Os personagens são de uma riqueza intelectual muito grande, e gostei da forma como a autora elaborou os diálogos. Ao mesmo tempo em que tanto docentes como discentes possuíam uma sede de conhecimento muito grande, mostravam-se sempre cautelosos em suas palavras devido ao medo de exporem suas ideias, e isso fez com que o suspense se mantivesse até o último momento.

Embora eu tenha achado a leitura um tanto cansativa inicialmente pela falta de ação, eu super recomendo o livro. Tanto pela trama em si, cujo desfecho é surpreendente e deixa uma dúvida no ar, como também pelo questionamento e posterior reflexão que a obra traz a respeito de aspectos políticos e religiosos ocorridos no período em que se passa a história.

Ah! Vocês devem ter reparado também que no título da resenha está escrito "livro 1". Sim, Heresia é uma triologia. Porém, ACREDITO que a sequência ainda não foi traduzida no Brasil. Pelo menos eu procurei em diversos sites e não as encontrei, apenas os títulos, sendo eles, respectivamente, Profhecy (Profecia) e Sacrilege (Sacrilégio).
Fico grata se alguém tiver alguma notícia sobre o lançamento desses livros (se já foram ou irão ser lançados). Minhas expectativas com relação à continuidade dessa trama são boas.

Bom, era isso. Acabei me excedendo um pouco, mas espero que tenham gostado da resenha. E como sempre, não esqueçam de dar a opinião de vocês.
Até a próxima!

4 comentários:

  1. Esse livro parece ser maravilhoso apesar dos contras. Estou de olho nele há um tempinho. Louca para ler. Adorei sua resenha...bem completinha.

    Beijos!

    Paloma Viricio- Jornalismo na Alma

    ResponderExcluir
  2. Eu recomendo... inclusive, caso ainda não tenha o livro, vi ele em promoção hoje no submarino. É um dos títulos que estão à venda por 10 reais. :D

    Caso interesse, segue o link da promoção http://www.submarino.com.br/portal/hotsite-sl/header-5livros-por50/sl-15por50jan2013/309573/309573/6750731/111935511/110859060?WT.mc_id=fulltoplivros&WT.mc_ev=click



    Fico feliz que tenha gostado da resenha. Abs!

    ResponderExcluir
  3. Goste de sua resenha, aliás, muito bem escrita.
    Creio que nunca ouvi falar desse livro, mas fiquei interessada.
    Entra pra lista de leitura.
    Um abraço!

    ResponderExcluir
  4. Muito obrigada! Fico feliz que tenha gostado.
    Ótima leitura pra ti! Depois diga o que achou do livro. :)


    Abraço!

    ResponderExcluir